A terapia nutricional desempenha um papel central no tratamento de pacientes em cuidados intensivos, mas é essencial estar atento aos riscos da síndrome de realimentação. O consenso da ASPEN (American Society for Parenteral and Enteral Nutrition) oferece recomendações valiosas para orientar os nutricionistas nesse contexto desafiador.
A síndrome de realimentação é uma complicação potencialmente grave que ocorre quando pacientes gravemente desnutridos recebem nutrição após um período prolongado de inanição ou jejum. A reintrodução rápida de calorias pode levar a alterações metabólicas perigosas, com risco de complicações cardiovasculares, neuromusculares, respiratórias e até a morte.
Conforme a ASPEN, a Síndrome da Realimentação trata-se da “redução mensurável nos níveis de um ou qualquer combinação de fósforo, potássio e/ou magnésio, ou a manifestação de deficiência de tiamina, desenvolvendo-se logo (horas a dias) após o início do fornecimento de calorias a um paciente que foi exposto a um grande período de desnutrição ou incapacidade de receber uma alimentação por via oral, enteral ou parenteral adequada”.
Nesse sentido, é extremamente importante monitorar, controlar e avaliar o paciente globalmente, evitando agravos e consequências mais sérias em virtude das alterações metabólicas rápidas que podem acontecer nos casos de prevalência da doença.
O que é a ASPEN?
ASPEN é a sigla da Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral, uma instituição criada em 1968 com a chegada da nutrição parenteral nos hospitais dos Estados Unidos. A ASPEN é formada por mais de 6000 membros em todo o mundo, sendo uma comunidade interdisciplinar de extrema relevância.
O principal objetivo da ASPEN é apoiar a prática clínica e promover a área da pesquisa e educação no âmbito da nutrição hospitalar. Isso significa que o foco da instituição é fornecer diretrizes e recomendações seguras para pacientes que estão submetidos a dieta enteral e parenteral.
Dentre os vários profissionais que fazem parte da instituição estão nutricionistas, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros. Cada um desses grupos é responsável por definir qual o melhor suporte nutricional para os pacientes dentro das suas áreas, baseando-se em pesquisas contínuas, estudos randomizados, publicações oficiais e dados populacionais.
O que é o Consenso ASPEN?
O Consenso ASPEN é um documento oficial publicado pela organização que contém informações precisas e atualizadas sobre o manejo da prática clínica hospitalar, contendo orientações, diretrizes e condutas a serem adotadas em prol da segurança e cuidados nutricionais com o paciente.
Cada subárea da nutrição tem suas próprias recomendações, contribuindo para a redução dos agravos relacionados à hospitalização, principalmente no que se refere às vias de alimentação e variações no estado metabólico.
Principais recomendações do Consenso ASPEN para Síndrome de Realimentação em cuidados intensivos
O consenso da ASPEN oferece diretrizes claras para prevenir e manejar a síndrome de realimentação em pacientes sob cuidados intensivos, e nós trazemos essas diretrizes de forma resumida para você:
1. Avaliação de risco
Identifique pacientes com alto risco de síndrome de realimentação, incluindo aqueles com desnutrição grave, baixos níveis séricos de fosfato, potássio ou magnésio, ou que possuam um histórico de jejum prolongado. Considera-se síndrome de realimentação grave qualquer quadro de redução de fósforo, potássio ou magnésio maior que 30% num intervalo de 2 a 5 dias após o reinício da alimentação.
2. Abordagem gradual
Inicie a realimentação de forma gradual e monitorada, começando com baixas calorias e aumentando progressivamente ao longo dos dias. Esta recomendação é válida tanto na alimentação oral quanto na alimentação enteral, feita através do uso de sonda nasogástrica sonda por gastrostomia ou sonda por aspiração traqueal.
3. Monitoramento regular
Monitore de perto os eletrólitos séricos, especialmente fosfato, potássio e magnésio, durante o processo de realimentação. Considere a suplementação adequada conforme necessário, respeitando as indicações dietéticas dos macro e micronutrientes.
4. Suplementação nutricional
Administre micronutrientes essenciais, como a tiamina, proteínas hidrolisadas ou módulos de carboidratos de rápida absorção antes de iniciar a realimentação oral, principalmente em pacientes com alcoolismo ou múltiplas deficiências nutricionais pré-existentes.
5. Abordagem multidisciplinar
Colabore com a equipe interdisciplinar, trocando informações e experiências entre si, garantindo uma abordagem abrangente e segura na retomada da terapia nutricional convencional.
Importância da especialização em terapia nutricional com ênfase em cuidados intensivos na prevenção da síndrome da realimentação
Para nutricionistas que atuam em unidades de terapia intensiva, a implementação cuidadosa dessas recomendações minimiza os riscos associados à realimentação e otimiza os resultados para os pacientes. A educação contínua e a atualização sobre as diretrizes mais recentes são fundamentais para oferecer a melhor assistência nutricional possível em contextos críticos variados.
As recomendações da ASPEN para síndrome de realimentação oferecem uma estrutura valiosa para nutricionistas que lidam com terapia nutricional em cuidados intensivos. Ao adotar uma abordagem preventiva e monitorada, é possível oferecer nutrição segura e eficaz, reduzindo os riscos potenciais associados à síndrome de realimentação em pacientes críticos.
Dessa forma, tornar-se um especialista no assunto abrirá um leque de oportunidades na área clínica e hospitalar, fazendo com que os pacientes em cuidados intensivos tenham um tratamento eficiente e adequado após voltarem a receber alimentos sólidos ou alimentação por sondas e afins.
Com o aumento dos casos de morte relacionadas à desnutrição hospitalar, é primordial que os profissionais de saúde estejam atualizados sobre as diretrizes da ASPEN e de outros órgãos relevantes, evitando a negligência e a progressão dos quadros.
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